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A CIDADE NO OLHAR DO REGISTRO

“As casas são nossas velhas amigas” Fiódor Dostoiévski

 “A Cidade no Olhar do Registro é uma mostra que se faz como reconhecimento de que diante de qualquer crise, todos necessitamos revisitar as origens. As origens de uma cidade guardam as histórias de cada pessoa. Somos todos pequenos museus e os museus são guardiães de tudo aquilo que restou de nós. Eles são reserva de força, onde podemos nos aportar para lidarmos com as intempéries. Por isso, se tornou imprescindível convidar o Museu de Arte Contemporânea de Jataí (MAC) para ser nosso parceiro nesse projeto inédito e autoral.

O MAC entendeu que essa mostra, nesse momento tão grave de pandemia, será de suma importância tanto para a cidade quanto para o Brasil e nos indicou para participarmos da 15º Primavera dos Museus. Esta edição, a 15º, é em primeiro lugar delicada e sutil, além de brava iniciativa ao trabalhar o tema “Museus: perdas e recomeços”. Tema que busca impulsionar uma reflexão sobre a função dos museus na sociedade, partindo do ponto que museus são lugar [...] “da guarda do que restou e augurando que, como em tantas outras vezes, o que restou enseja os recomeços. (IBRAM, 2021). ”

Assim, com essa mostra, aliançamos museus e cartórios e fazemos com que o cartório exerça a função de inserir no cotidiano das pessoas que o frequentam, e também da cidade, um pedacinho de cada museu. E também fazendo com que os cartórios possam ser casas que abrigam antigas casas que abrigaram a tantos. E é através do olhar dos fotógrafos ao registrar a importância das cenas da cidade e mostrar a cidade a seu povo que o cartório se torna parceiro do museu. A fotografia registra os olhares como produtores de história, como lugar dos fragmentos restantes de um tempo.

Essa parceria museu/cartório oferece uma ampliação do conceito de espaço de exposição: o museu deixa de ser um espaço apenas expositivo, passando a ser também de registro e o cartório deixa de ser um espaço somente de registro para ser também histórico. Ao criar esta mostra, o espaço do cartório se presta a ser o espaço de toda a cidade e também ser [...]“espaço de convergência da experiência humana, sejam elas experiências sociais, históricas ou artísticas. (IBRAM, 2021).”   

A curadoria se guia dentro de um universo de fotos e pinturas apresentadas pelo MAC, escolhendo fazer a mostra sobre aquelas que trouxeram o olhar sobre a cidade, suas casas, pessoas e o tempo. Lendo nesses retratos que as cores das coisas que restaram transitam nisso do nunca mais. Se tornaram vestígios do que teimou em não ir-se todo, ruínas de outros que passaram. Elas são a prova da claudicância de cada um de nós. São como nós: passantes. Porque tudo que falta tem o valor da falta em si – e mesmo que ninguém saiba - somos nós que precisamos das coisas que envelheceram. Elas guardaram as vozes das gentes, o cheiro do vento que passou, a vida do pequeno musgo que cresceu esquecido, o riso e as lágrimas dos que amamos, a luz da manhã que ensolarou a rua, o segredo dos grilos e vaga-lumes nas noites distantes.

 

Claudia Machado

Curadora


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